JORNAL ESTÂNCIA DE ATIBAIA
A produção de uma prova autorizada por um investigado de explosão a caixa eletrônico em Atibaia, o vinculou a outros dois roubos, os maiores já registrados em Santos e no Paraguai.
Essa ligação foi estabelecida por meio de exame de DNA realizado sete anos e quatro meses após o primeiro crime.
O Ministério Público (MP) denunciou o acusado pelo delito do litoral paulista, no qual três homens foram mortos, sendo dois policiais. “Sobre a autoria existem mais do que indícios convincentes”, justificou o promotor Rogério Pereira da Luz Ferreira.
Em relação à legalidade e relevância da prova produzida contra o réu, o representante do MP destacou que o acusado concordou em fornecer material biológico. “Comparadas as amostras, a perícia constatou que eram da mesma pessoa. Portanto, o DNA do denunciado estava na máscara utilizada no crime”.
A juíza Silvana Amneris Rôlo Pereira Borges, da 6ª Vara Criminal de Santos, recebeu a denúncia e acolheu o pedido do promotor para decretar a prisão preventiva do acusado.
“Não há como negar que, em se tratando de delitos desta espécie, praticados por ousados agentes, que nada temem e colocam em polvorosa toda a cidade, exige-se eficiente atuação do Estado para acautelar a ordem pública”, reconheceu a magistrada.
Os roubos esclarecidos tiveram como alvos bases de uma empresa de transporte e guarda de valores. Em ambos os casos, os criminosos portavam armamentos bélicos, explodiram cofres com dinamites e utilizaram caminhões para derrubar o muro e o portão de ferro das sedes da firma. Além disso, empregaram outros veículos para transportar a mega quadrilha e bloquear vias, impedindo a chegada de viaturas.
Santos
A ação criminosa em Santos aconteceu na madrugada 4 de abril de 2016, na base da Prosegur localizada na Rua Silva Jardim, no Macuco. Os bandidos roubaram R$ 12,1 milhões da empresa e repeliram com tiros de fuzil policiais militares que tentaram se aproximar. Nesse confronto, um morador de rua que dormia debaixo de uma marquise morreu e um PM levou um tiro na cabeça, ficando gravemente ferido.
Na fuga, parte do bando disparou contra uma viatura da Polícia Militar Rodoviária parada no acostamento da Via Anchieta, causando as mortes dos patrulheiros Leonel e Alex. As vítimas sequer sabiam do roubo à empresa de valores.
Enquanto escapavam, os ladrões perderam malotes com dinheiro. Neles havia a quantia de R$ 8.799.408,57, que foi recuperada e restituída à Prosegur. Durante a fuga ainda pela área urbana de Santos, o comboio de veículos da quadrilha chamou a atenção pelo uso de uma caminhonete.
Na caçamba dela, um assaltante portava um fuzil de guerra apoiado em um tripé. De calibre ponto 50, o armamento tem potencial para abater helicópteros e aeronaves de pequeno porte.
Na rota de fuga, o bando também roubou um Fiat Uno, abandonado na mesma data em Santo André (SP). No carro foi apreendida uma touca balaclava, usada como “máscara” por um dos bandidos, conforme o promotor.
Atibaia
Com preventiva decretada devido à explosão do caixa eletrônico em Atibaia, neste ano no dia 31 de agosto o indivíduo foi preso e assinou “Termo de Doação Voluntária de Material Biológico”, sendo coletada amostra de sua mucosa oral.
Em 21 de setembro, laudo do Núcleo de Biologia e Bioquímica do Instituto de Criminalística de São Paulo teve resultado positivo para dois perfis. Um desses perfis se refere ao material biológico coletado na touca encontrada no Fiat Uno. O outro está relacionado à amostra obtida em uma toalha recolhida em uma casa no município de Ciudad del Este, no Paraguai.
O imóvel serviu de base de apoio para criminosos que explodiram a sede da Prosegur naquele país, em 24 de abril de 2017. O bando roubou US$ 11,7 milhões — equivalente a R$ 56,6 milhões na cotação atual.
Responsável pela investigação do caso de Atibaia e solicitante do exame de DNA para apurar a eventual participação do averiguado em outros crimes, o delegado Pedro Ivo Correa L. dos Santos, da 5ª Delegacia sobre Furtos e Roubos a Bancos, do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), disse que “deu match”, ao citar o resultado da perícia em relatório das diligências remetido à Justiça.
“O DNA do homem foi encontrado no maior roubo da história de Santos e também no maior roubo da história do Paraguai”, assinalou o delegado. Ele disse que esse tipo de assalto passou a ser chamado de “novo cangaço” em alusão às ações do bando de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, no Nordeste, nas décadas de 20 e 30, quando cidades eram cercadas e saqueadas, mediante o uso de armas de grosso calibre.
Fonte: Eduardo Velozo Fuccia / conjur
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