Perita explica como é feita a análise de mortes por descarga elétrica

JORNAL ESTÂNCIA de ATIBAIA

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Médica perita Caroline Daitx

“A ausência de grandes queimaduras não exclui a hipótese de eletrocussão”

Um funcionário terceirizado da ViaMobilidade faleceu na madrugada desta quinta-feira (13/11), durante manutenção em um trem no pátio de Presidente Altino, em Osasco, na Grande São Paulo, após sofrer uma descarga elétrica enquanto realizava reparos em uma caixa de alta tensão sob a composição. O acidente, ocorrido em ambiente ferroviário, reacende o debate sobre segurança elétrica e os procedimentos periciais adotados para esclarecer óbitos por choque elétrico.

Segundo informações preliminares, o trabalhador estava executando serviços técnicos quando entrou em contato com um condutor energizado. A morte foi constatada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) no local.

Para explicar como esses casos são analisados, a médica perita Caroline Daitx, especialista em medicina legal e perícia médica, relata que os peritos buscam sinais característicos no corpo e nas vestimentas da vítima. “Entre eles, destaca-se a chamada “marca de Jellinek”, uma lesão seca, endurecida, com bordas elevadas e centro deprimido, geralmente amarelada ou acinzentada, localizada nos pontos de contato com a fonte elétrica, como mãos ou ombros. As roupas também podem apresentar orifícios, fusão de fibras ou carbonização, indicando passagem de corrente ou arco elétrico.”

A especialista ressalta que a ausência de grandes queimaduras não exclui a hipótese de eletrocussão, já que muitas mortes ocorrem por fibrilação ventricular ou parada respiratória. “Na necropsia, podem ser observadas hemorragias puntiformes, áreas de coagulação proteica e lesões musculares como miofibrólise. Exames histopatológicos revelam alterações específicas da eletrotermia, como vacuolização da epiderme e ruptura de fibras elásticas, enquanto a toxicologia forense é utilizada para descartar outras causas”, detalha.

Daitx ressalta que em casos com contexto industrial ou ferroviário, a perícia também analisa o local do acidente, verificando a fonte energizada, falhas de isolamento e condições dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). “A posição do corpo, marcas de queda e vestuário ajudam a determinar o trajeto da corrente elétrica. A integração entre dados técnicos e médico-legais permite estabelecer o nexo causal entre o acidente e o óbito”, finaliza a perita.

O caso reforça a importância de protocolos rigorosos de segurança elétrica, uso adequado de EPIs e treinamentos contínuos para trabalhadores que atuam em ambientes de alta tensão.

Fonte: Caroline Daitx: médica especialista em medicina legal e perícia médica. Possui residência em Medicina Legal e Perícia Médica pela Universidade de São Paulo (USP). Atuou como médica concursada na Polícia Científica do Paraná e foi diretora científica da Associação dos Médicos Legistas do Paraná. Pós-graduada em gestão da qualidade e segurança do paciente. Atua como médica perita particular, promove cursos para médicos sobre medicina legal e perícia médica.  CEO do Centro Avançado de Estudos Periciais (CAEPE), Perícia Médica Popular e Medprotec. Autora do livro “Alma da Perícia”. Doutoranda do departamento de patologia forense da USP Ribeirão Preto. 

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